Sobre 25 de dezembro

"Uma coisa é certeira, 

parte do que parte permanece uma vida inteira"

2001. Passava da meia noite do dia 25 de dezembro, por algum motivo fui à cozinha buscar um copo d'água e voltei com muito mais que isso. Encontrei um velhinho barbudo, simpático e barrigudo. Diferente do que sempre me falavam, ele vestia verde. Me entregou uma bicicleta de presente, exatamente o que eu mais queria. Ontem à noite, conversando com meus pais essa passagem da minha infância veio à tona, ainda me lembro claramente de contar a eles tudo o que eu havia visto naqueles prováveis 2 minutos que gastei para encontrar minha bicicleta nova na cozinha. Se me perguntassem, juraria de pés juntos que era ele. Sim, Papai Noel me visitou, eu vi o bom velhinho!

               

Engraçado lembrar dessas coisas.

            

Sempre fui o que podemos chamar de uma criança com imaginação fértil, felizmente isso me trouxe grandes recordações, tudo podia ser sempre mais do que o que parecia. Acho que, de certa forma, todo dia era natal pra mim. Todo dia podia ser dia de festa, e quando era realmente natal, a festa triplicava. Casa da vó, primos, tios, achegados, a espera pela meia noite que nunca chegava... Na realidade aconteciam muito mais coisas, mas que eu, felizmente, no auge dos meus 6 anos não era capaz de enxergar.

Hoje vejo o natal como um tempo de reflexão, pra pensar em tudo que aconteceu durante o ano, pra perceber o quanto as coisas conseguem mudar em tão pouco tempo. Como aquilo que antes representava o mundo pra você, hoje não passa de mero detalhe. Sou grata pela minha vida, pela minha família, pelos amigos que eu cultivei, e principalmente, pelas memórias, afinal, somos feitos delas.

Que eu sou apaixonada pelo natal, não é segredo pra ninguém. É mais que os presentes, mais que a reunião dos que há muito não se viam, mais do que as ruas mais iluminadas do que nunca. É aniversário daquele que mais me inspira. Foi natal em Belém, quando aquele menino pobre nasceu num estábulo, sem ninguém perceber. É natal toda vez que eu vejo aquela menininha loira vendendo chocolates com o primo nos ônibus, sem ninguém ver. É natal quando minha avó, mesmo eu não estando em casa, separa o prato de comida que seria meu. É natal toda vez que uma pequena ação se faz grande, quando toca na vida do outro, quando é grande sem a pretensão de ser. O natal nasceu para todos e todos podem ser parte dele.

Muita gente diz que essa época do ano também é muito marcada pela hipocrisia, como tempo daqueles que não pensaram em ninguém durante o ano fazerem suas boas ações. Que bom! Se a gente é capaz de espalhar alegria, se a gente é capaz de botar o sorriso no rosto de alguém, por que não?Pode ser pouco, pode ser rápido, mas nunca vai deixar de ser. Como já dizia aquela música do Roupa Nova, que o natal comece no seu coração. Que seja pra todos, sem distinção. Um gesto, um sorriso, um abraço, o que for. O melhor presente é sempre o amor.

“E os contadores de estórias nos disseram que ele [Jesus] gostava de crianças. Não queria que elas ficassem adultas. E aos já crescidos avisava que não se deixassem de ser como eram jamais veriam o reino dos céus. Teriam de voltar a ser crianças. Nicodemos se atrapalhou. Era homem adulto, respeitável, levava as coisas a sério, ao pé da letra, e pensou que Jesus falava de obstetrícia. Ao que ele retrucou: “Não é obstetrícia, Nicodemos, é o vento. O vento sopra…” E ele deve ter ficado mais confuso ainda. As crianças veem coisas que os adultos não podem ver”- Rubem Alves.

Há alguns anos foi natal quando eu vi o Papai Noel, que este ano o natal seja você! 

-Ana, aquela que não tem mais 6 anos