Conversa de ônibus



"O que Gisela descrevia para mim era um amor intensamente alegre e íntimo. Achei aquilo a descrição de fé mais convincente que eu já tinha ouvido. Eu não estava prestes a sair correndo para pegar uma bíblia; tampouco nossa conversa era de alguma forma sobre mim ou sobre minhas escolhas. Mas ela me deu o que pensar"
- Orange is the new black



Esse trecho do livro me chamou atenção e acabou batendo com uma situação que eu vivi um dia desses. Engraçado como algumas coisas que parecem estar muito erradas acabam dando certo. Essa semana saí de casa super atrasada pra ir à faculdade e no ônibus, perto de mim, havia casal de amigos. No começo o papo deles parecia mais um daqueles que eu ouço todo dia pelos transportes públicos da vida e ignoro, mas percebi que não. Descobri que eles eram de uma igreja da qual eu e minha família fizemos parte por vários anos, que em algum momento deixou de dialogar com aquilo que nós queríamos viver, mas que mesmo assim contribuiu bastante na nossa caminhada.

Enfim, conversa vai, conversa vem e algumas coisas me chamaram atenção. Logo no começo, falando de uma pessoa que o inspirava muito, o rapaz falou de uma história na qual se você entra num salão, percebe uma grande mancha no chão, e que todos estão passando por cima dela, talvez aquelas pessoas simplesmente não estejam vendo aquilo da mesma forma que você, ou talvez você tenha sido o único a notar e sua tarefa seja mostrar aos outros isso. Na hora me lembrei de algo que Jesus disse no livro de Mateus. O que me chamou atenção foi exatamente a forma com que o cara disse tudo aquilo, sem necessariamente citar algum versículo, nem nada. Em certo ponto o moço contou que ele e sua esposa não faziam parte da mesma igreja, e que apesar disso incomodar vários dos 'irmãos', como ele mesmo disse, para eles nunca havia sido um problema. Que eles viviam muito bem assim, e que ele conseguia ver Deus naquela relação, pois falavam a mesma língua, tinham os mesmos objetivos, uma maneira de perceber Deus diferente, mas que quando eles estavam juntos se completava. Ele disse que, também diferente do que diziam que deveria ser feito, não havia essa necessidade exaustiva de ficar o tempo todo tentando convencer o outro sobre que igreja estava mais próxima de Deus, porque o importante mesmo era os dois estarem próximos, e que ele sentia isso. Achei aquilo bem bonito. 

Para eles o verdadeiro Deus estava nas atitudes. e me chamou atenção o fato de que em vários momentos ele falou sobre liberdade. Liberdade que ele tinha mesmo quando as outras pessoas diziam o contrário, e liberdade pra viver Deus e transmitir a mensagem Dele da melhor maneira possível. Lá pro finalzinho da conversa acabei descobrindo que o cara era pastor, mas que não fazia nem um pouco de questão de ser chamado assim, desde que sua mensagem cumprisse seu papel e chegasse a outras pessoas. Que se ele conseguisse transmitir alguma coisa boa pra pessoa, mesmo que ela nem soubesse de quem se tratava, a tarefa dele estava cumprida. Falou também, voltando pra história da mancha, que aquela não era a palavra dele, que aquele não era o povo dele, nem mérito dele se as pessoas se sentissem bem com aquilo que ele 'pregava'.  Que se ele viu a mancha, só precisava tentar fazer as outras pessoas verem também, da melhor maneira, e assim ir mostrando pra mais e mais gente, ficando mais fácil pra todo mundo limpar junto, e no final deixando o ambiente limpo pra todos. 

Infelizmente eles passaram a catraca e eu perdi o resto da história, mas como a Piper no livro, aquilo me fez pensar. Apesar de não concordar com tudo o que os amigos diziam, foi interessante ouvir tudo aquilo e perceber que, mesmo naquele lugar que eu parei de frequentar exatamente por não falar mais da mesma forma que eu, existem pessoas que enxergam Deus da mesma forma que eu que eu o vejo. Que Ele pode estar e vir de qualquer lugar, no ônibus, em uma conversa qualquer. E que às vezes a gente acaba tocando no coração das pessoas sem nem se dar conta disso.

-Ana, aquela que ficou feliz por ter perdido a hora

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