Quando eu te olhava, me via.

Quando te conheci naquela tarde de sábado mais quente do que o previsto, algo em mim já sentia que você iria mexer comigo da mesma forma que o sol faz quando toca minha pele. Que eu adoraria te ter por perto ao mesmo tempo em que tratava de usar protetor solar o suficiente pra garantir que ficássemos apenas na superficialidade. A questão é que às vezes - quase sempre - eu me esquecia daquele cuidado todo antes de sair de casa. E me via queimando e me deixando queimar, embora meu desejo ainda fosse a distância. Eu me assustei porque encontrando você eu  via a mim mesma. Eu enxergava uma alma tímida à espera da palavra certa pra se revelar. Eu via o mundo de alguém que refletia o meu mundo. E aquilo me assustava. Então eu corri. Por mais difícil que seja admitir, eu sempre procurei no outro aquilo que me faltava. Não que de algum jeito eu me sentisse incompleta, mas sim porque eu não acredite que nada pode ser bom o bastante a ponto de nunca precisar de um complemento. Enquanto eu queria transbordar você achava que o que tínhamos era suficiente. Que permanecer sempre igual era a chave pra nunca deixar
as coisas desandarem. Juntos a gente fez calmaria mas aqui dentro eu sentia falta da fúria, da incerteza de não saber o que esperar, de descobrir algo novo todo dia. Sim, a gente fazia uma boa dupla. Ser e ter aconchego era bom. Mas eu nunca soube ficar no bom e você sempre soube disso. Porque quando me conheceu eu era um barco que não sabia mais pra onde remar. Porque tudo que eu ansiava era navegar. Por aí, até não ter mais pra onde ir. Você quis ser ancora e me ofereceu um porto. A sua falta de interesse por arte eu deixei passar. O quanto você queria fugir do mundo lá fora quando estávamos juntos também. Eu me apaixonei pelos seus áudios de 19 segundos contando qualquer fato bobo sobre a sua rotina. Eu me apaixonei por ouvir o seu sotaque mineiro que destoava dessa multidão paulista. Me apaixonei por encontrar mensagens suas me sugerindo coisa que a gente nunca seria capaz de fazer. Eu me apaixonei pela forma como você estava sempre disposto a me ensinar algo que eu não sabia. Eu me apaixonei por cada partezinha sua, só não consegui me apaixonar por você. Inteiro. Porque quando eu te olhava, me via.  E eu  não queria mais de mim. Eu detesto a minha falta de atitude. Detesto como muitas vezes eu paro mesmo sabendo que deveria agir. Detesto não saber lidar e surtar com cada pequeno problema que aparece no meu caminho. E detestei ainda mais quando vi essas coisas em você. Desculpa eu não me apaixonar por você. Desculpa não permitir que a gente fosse. É porque quando eu te olhava, me via. E eu nunca me achei boa o bastante pra fazer alguém feliz. 
Quando eu te olhava, me via.

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