sobre-viver
Ser assim, como sou, dói. Afunda a gente. Tem um turbilhão acontecendo aqui dentro e eu tô vendo parte de mim desmoronar por inteiro. Parada. Sem poder fazer nada. Vendo tudo explodir. Vendo o que era meu deixar de ser. Eu tô com medo porque nunca estive do lado de cá, porque antes eu era plateia. Tá doendo porque eu me sinto inútil em não poder fazer nada. Em ser só eu. Em novamente ser menos do que precisam. Eu queria chegar na sua cara e gritar bem alto que porra é essa que você tá fazendo pra onde você tá indo no que é que você tá se tornando. Eu queria gritar bem alto pra ver se você percebe o quanto isso não faz sentido. O quanto ficar perto de você é tóxico e o quanto mesmo assim a gente tem permanecido aqui. Eu queria ser boa o bastante e ter o poder de persuasão que você tem, e te convencer a voltar. Mas você não volta, porque não quer, porque assim como eu descobri que sou pouco, você descobriu que a gente não vale a pena. Desculpa, mas não é verdade. Em momentos eu já achei que fosse capaz de dar minha vida pela sua porque os seus foram os olhos em que eu vi mais esperança desde o momento em que a gente se cruzou pela primeira vez. Eu te via crescer e sentia que por mais que almejasse ser grande, de algum jeito você já havia nascido maior. Mas você se perdeu. Você tá perdido. Você não quer ver isso. Mas eu vejo e todo mundo vê. Penso que se essa fosse uma daquelas histórias de novela das nove o seu destino já estaria traçado e o fim não seria bom. Eu sou grata por a gente ser realidade mas me dói pensar que esse programa nunca acaba e sou obrigada a sobreviver a esse turbilhão o tempo todo, aos caos e à luta. Sobreviver. Só porque eu ainda acredito que ainda tem jeito, só por isso. Eu queria que nós fossemos como eles nos enxergam. Eu queria não precisar me esconder no banheiro pra chorar em paz. Eu queria não ter que passar horas divagando antes de conseguir dormir porque de algum jeito eu sempre tenho medo que o dia seguinte seja pior e mais pesado que o anterior. E medo da corda que nos une uma hora não aguentar o baque e se soltar. Você me fez ter medo de novo depois de ter navegado no mar da auto confiança. Em algum momento eu passei a entender o que sentem essas pessoas que escolhem não amar. E se eu pudesse, se soubesse disso antes, talvez teria escolhido também. Eu não teria te dado minha mão. De algum jeito eu sei que fui parte da sua mudança e me aterroriza não saber onde foi que você desviou. Eu te mantinha tão perto e mesmo assim quando te vi, já ia longe. Colocar tudo isso pra fora me faz perceber que meu caos é muito maior do que só eu e provavelmente o mais inesperado do mundo pra quem vê de fora. Nessas horas eu queria ter a capacidade de expressar só um pouquinho mais, pra deixar eles entenderem que não tem nada bem. Nessas horas eu queria encontrar um encostinho pra repousar minha cabeça e não ter que explicar nada a ninguém. O porquê de não sair, o porquê de nunca querer apostar. Eu queria achar um ombro que não me perguntasse o que tá acontecendo e me aceitasse assim como eu tô, toda cheia de feridas, magoada e doída. Mas não tem, porque eu sou neutra. Porque eu não sinto e o que eu sinto eu não mostro. Porque eu sou fraca, e pouco. E você, você é um bosta. Mas nem sempre foi, e infelizmente, em algum momento eu me apeguei a isso. Que triste o apego.
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