Obrigada, Carol.
Em uma tarde de 2017 eu ouvi algo que me parou. E eu fiquei assim, parada, por quase um dia todo.
Já era final da tarde quando ouvi e encerrei aquele dia ali, sozinha. Eu e meu violão repetindo incansavelmente uma mesma música tal qual um disco riscado que esqueceu como funcionar. Não era possível. Mas era.
Eu acordei no outro dia e continuava sendo verdade, continuava sendo verdade! Mas não podia ser.
As horas iam passando e eu só precisava que minha mãe chegasse em casa. Eu não conseguia falar, estava há quase um dia sem falar. Se eu falasse ia ver que era verdade, e não podia.
Eu acordei, tomei café, me arrumei, penteei os cabelos e fiquei esperando minha mãe chegar no horário que ela sempre chegava porque ela iria entender ou me dizer que não podia ser real.
No momento em que minha mãe chegou eu já estava aflita e ninguém entendia nada.
Disse à ela que a Carol - aquela minha amiga com quem tomamos café no dia do Sarau - a Carol mãe, de cabelo enroladinho, cheia de expressão, de risadas, de toque - ela não estava mais aqui e eu precisava me despedir.
Desabei.
A gente foi em silêncio até lá, um caminho longo. A companhia da minha mãe consolando aquilo que nem eu nem ela entendíamos.
Eu nunca falei desse dia, não por esse ângulo. Em nenhuma sessão de terapia, nenhuma conversa entre amigos, nenhuma oração. O dia que me deixou sem fala, sem ar.
A gente é tanto das pessoas que passaram pela gente, né?
Obrigada, Carol.
Te vi pela última vez mas te levo comigo sempre, obrigada.
Escrito em 30 de maio de 2020.
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