bbb e quando a gente se vê de longe.
Aos 14 anos fui pela primeira vez em um acampamento da igreja. Eu estava ansiosa demais. Havia acabado de retornar da minha viagem de formatura da oitava série e finalmente iria para o acampamento de que eu ouvia falar há muitos anos como sendo o lugar mais incrível do mundo. Com tantas expectativas, talvez fosse normal se frustrar um pouco, acho que foi isso o que eu talvez pensei na volta pra consolar meu próprio coração adolescente.
Eu conhecia pouca gente ali e passei os dias com algumas das meninas que dividiam quarto comigo. Honestamente, eu achava que éramos amigas. Lembro nitidamente do momento em que elas faziam comentários sobre uma foto e quando eu pedi pra ver também, a resposta foi "você não vai ver, é curiosa demais" e todas as outras riram. Tudo acabou pra mim. O acampamento acabou, a graça acabou e eu percebi que elas não me queriam por perto, assim como fizeram questão de demonstrar a partir daquele momento. Penso que talvez no começo tenham sido simpáticas porque é o que a cordialidade manda, mas que passados um, dois dias, não tinha mais porquê.
Eu me culpei durante anos por nunca ter conseguido cultivar uma única amizade na igreja em que eu passei a maior parte da minha vida. Resolvi que não voltaria ali infinitas vezes porque eu sentia que continuava não sendo bem vinda, mesmo que essa história tenha ocorrido muitos anos atrás e mesmo que nenhuma daquelas meninas tenha sequer permanecido ali. Alguns sentimentos nos perseguem, mas essa história não é sobre isso.
É sobre o que nós dizemos e as marcas que deixamos.
Quando assisti BBB essa semana e me deparei com a Karol Conka desferindo ataques, abusos e falta de educação de um modo desproporcional às atitudes do Lucas, eu me lembrei daquelas meninas. Quando vi o Lucas comendo sozinho, isolado e aceitando tudo o que diziam sobre ele como verdade, lembrei delas. A gente não precisa gostar de todo mundo, nem vai, mas nós precisamos saber que tudo deixa marcas. Todas as nossas atitudes, palavras e até silêncios, comunicam coisas que podem demorar tempo demais a cicatrizarem. Torço pra que o Lucas tenha uma rede de apoio incrível para abraçá-lo todas as vezes em que ele sequer cogitar ser alguma das coisas que ouviu ser chamado.
Eu percebi algum tempo atrás que nos meus processos de cura, falar sobre o que me fere é uma das últimas etapas. Eu falo quando aquilo já cicatrizou dentro de mim. Mesmo tendo passado anos entre tentativas e erros de me aproximar de pessoas pra tentar me aproximar de Deus, hoje eu entendi que as duas coisas são importantes mas que a opinião de ninguém é capaz de afetar o que Deus pensa sobre mim. Que Ele conhece meu coração e nele eu me sustento. Que pessoas são importantes mas não são todas as que precisamos manter por perto. Eu me reconciliei com a ideia de acampamentos depois de um que eu nunca esperei estar. Entre muitos padres e freiras eu entendi que o amor de Deus não fere, ele acolhe.
Me perdoei por todas as vezes em que não fui capaz de me abrir por achar que estava expondo coisas que as pessoas não gostariam de saber. Me perdoei pelas vezes em que olhei pra Deus e disse que eu não iria tentar mais, que eu havia falhado em ser comunidade e pronto. Me perdoei por todas as vezes em que eu saí em busca de uma igreja nova pra tentar consertar aquilo que eu quebrei no acampamento que eu fui quando tinha 14 anos. Perdoei a Ana do passado e Deus abraçou a Ana do presente me mostrando que com Ele sempre há uma nova chance, nova vida. Torço pra que Deus te abrace também, Lucas.
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